Os infectados de Terra Morta NÃO SÃO ZUMBIS!

Há uma controvérsia muito grande em relação aos infectados de Terra Morta. Considerada uma história de zumbis, uma porcentagem generosa dos comentários, críticas e resenhas aponta como um erro o fato de os infectados morrerem de qualquer maneira; afinal, zumbis têm apenas o cérebro como ponto fraco, certo? Mire na cabeça, certo?


Aqui entra aquela velha conhecida liberdade criativa. Zumbis surgiram no cinema em 1932, em White Zombie, dirigido por Victor Halperin e estrelado por Bela Lugosi, que fazia o papel do maléfico Legendre, que, no Haiti, transformava pessoas saudáveis em trabalhadores zumbis com a ajuda de uma poção misteriosa. Não vou me aprofundar no enredo e nem mentir, pois não o assisti.

Naquele tempo nem se imaginava um vírus que transmitia a praga. O filme contava a história de uma jovem que era transformada em zumbi por um mestre vodu. São coisas que realmente existiam na época. Um caso singular data de 1937, onde se diz que Zora Neale Hurston, folclorista, antropóloga e escritora, pesquisava o folclore do Haiti e descobriu o caso de uma família que alegou que uma parente que havia morrido e sido enterrada em 1907 com idade de 29 anos, chamada Felicia Felix-Mentor, havia retornado dos “mortos”. Hurston supôs que a garota foi drogada com uma poderosa droga psicoativa, fazendo-a ficar sumida por todo o tempo.

De lá até 1968 foi um pulo, com o lançamento de A Noite dos Mortos-Vivos, de George Romero, que trazia um novo e mais assustador conceito sobre essas criaturas tão temidas e amadas. Na minha humilde opinião, muito mais divertido.

Viram? Romero se deu o direito de criar seu próprio zumbi. Qual seria a graça se Barbara e seu irmão se vissem rodeados por um bando de mortos-vivos que obedeciam ao que eram mandados? Considerando o que o diretor pretendia, nenhuma. Sua intenção era a de assustar o público, trazer um zumbi vilão, e não seres dignos de piedade por parte dos espectadores.

Não vou destrinchar o enredo dos filmes, tampouco as supostas críticas sociais ocultas nos roteiros de Romero e alguns tantos outros. Isso é assunto para outro post. Continuando...

Segundo uma resenha publicada no PsychoBooks, li:

“Quanto aos zumbis – ou os seres humanos acometidos pela estranha doença -, também fiquei sem entender bem suas características. Talvez por já termos uma ideia pré-concebida a respeito das características desses seres, não me conformava quando algum deles morria com um simples tiro na barriga. Também não ficou claro quanto tempo demorava para um ser humano se transformar e como se dava a infecção.”

É exatamente essa ideia pré-concebida que acarreta tantos argumentos sem fundamento. Em nenhum momento eu disse que Terra Morta era uma fanfic inspirada em Romero, ou que meus infectados eram os mesmos mortos-vivos da maioria das produções do gênero. Só o fato de eles correrem como o diabo deixa claro que não estão mortos, isso se considerarmos o lado mais realístico desse tipo de história.

Tentei sim dar um tom realista a Terra Morta. Não há zumbis superpoderosos carregando bazucas, nem cães com três cabeças, tampouco Lickers deslizando pelas paredes. Há correria, luta pela sobrevivência, planos mirabolantes, uma infecção contagiosa, e tudo está nos conformes de “Seria assim se realmente acontecesse”. Não acredito que, algum dia, as salas do inferno ficarão tão cheias que não haverá mais espaço, resultando na vinda dos mortos para a nossa realidade. Aqui se encaixa uma longa discussão religiosa, e como não se tem certeza do que há entre o céu e a terra, deixemos pra lá.

Quando me questionam se acredito em uma pandemia zumbi na vida real, minha resposta é sempre sim; porém, não como é mostrado no cinema, como todos esperam que seja. Um exemplo perfeito de como seria é o filme 28 Days Later (Extermínio), de Danny Boyle. Pessoas são infectadas por um vírus desconhecido, que pode ter vindo de qualquer lugar (nas HQs oficiais do filme, vem dos macacos), e atacam outras. Como a doença é contagiosa, basta uma mordida, arranhão ou o simples contato de fluídos infectados com mucosas de pessoas saudáveis para a infecção agir. Apesar de parecerem deveras mortos-vivos, os infectados continuam vivos.


Em Terra Morta, é quase que exatamente a mesma coisa. Os infectados são pessoas vivas. Doentes, mas não mortas. Há uma explicação racional (claro que dentro dos conformes de uma história ficcional) para a infecção, o que será explicado no último livro da trilogia (Sim, pretendo explicar d'onde diabos veio a infecção). Por isso, ferimentos graves em pontos vitais são tão eficientes quanto um tiro na cabeça. Os infectados mantêm as mesmas funções de um ser humano normal, apesar da agressividade incontrolável. Eles respiram, se alimentam, mas sua necessidade mais importante é, de algum modo, suprir a raiva eterna que pesa em seu âmago. A infecção de Terra Morta pode ser considerada um tipo de raiva humana.

Não estou sob nenhum efeito de estrelismo. O mesmo esgoto que passa sob vossas casas também passa sob a minha. Não sou melhor do que ninguém, e cada um se faz tão bom quanto pode ser. Terra Morta pode ter sido vendida desde 2008 como uma história de zumbis, pois traz todos os melhores elementos do gênero, mas não envolve zumbis propriamente ditos. O aspecto básico dos mortos-vivos não está nem nunca esteve presente: mortos levantando de suas covas e voltando à vida. Sim, há pessoas desmembradas vagando por aí, mas quem garante até onde conseguirão chegar até que a perda de sangue conduza ao destino inevitável? Eu o fiz? Nem tudo foi explicado ainda, e não os culpo por pensar dessa maneira, mas não custa esclarecer, não é?

Gostaria de poder me estender na explicação, falar tudo sobre meus infectados, mas acabaria estragando as surpresas que vêm aí nas sequencias. Enfim, é tudo o que precisam saber (e que pensei ter deixado bem claro em Fuga) sobre a diferença entre zumbis convencionais e os infectados de Terra Morta. É também meu ponto de vista sobre “zumbis reais”.

Analisando os filmes do gênero, podemos colocar do seguinte modo:

ZUMBIS - MORTOS-VIVOS - DEFUNTOS QUE ANDAM
A Noite dos Mortos-Vivos
A Volta dos Mortos-Vivos
Madrugada dos Mortos
Resident Evil
Fome Animal
Colin
Todo Mundo Quase Morto
Diário dos Mortos
Zumbilândia
Dia dos Mortos
Dead Set
Mangue Negro
Era dos Mortos
Porto dos Mortos
The Dead
Devil's Playground
Fido
Dead Snow
Legião do Mal
Rammbok
Planet Terror
The Walking Dead
Exit Humanity
Cemitério Maldito
Automaton Transfusion


INFECTADOS - VIVOS DOENTES
Extermínio 1 e 2
Mutants
A Epidemia
The Signal

POSSUÍDOS PELO COISA RUIM
[REC]
Demons 1 e 2
A Morte do Demônio
A Noite dos Demônios 1, 2 e 3


Sim, eu sei. Há muitos de mortos-vivos MORTOS. É o clássico, oras. E isso não é uma lista de quem sabe mais, são os que conheço. Conhecem mais do que eu? Clap clap! É difícil rotular alguns filmes que tecnicamente são de infectados, como DogHouse e Night of the Creeps, mas eles levam tanto para o lado trash que fica difícil acreditar que aquelas pessoas estejam vivas.

Podemos comparar também com os jogos da franquia Resident Evil. Enquanto nos primeiros os zumbis eram mortos-vivos, é válido considerar que nos 4º e 5º eles são infectados (mesmo que os protagonistas teimem em mirar nas cabeças). Enfim, dá pra ter uma boa ideia sobre as diferenças.

Resenhistas, leitores e curiosos, deem uma olhadinha aqui antes de conhecerem meus infectados. Vai ajudar bastante. E para quem quiser conhecer White Zombie, o filme é domínio público e está disponível completo no Youtube. Assistam no vídeo abaixo e digam se o tema faria tanto sucesso hoje em dia caso permanecesse no molde original. Talvez cheguem à conclusão de que a mudança é necessária e muito bem-vinda.

14 mordidas:

Anônimo disse...

só quem não leu o livro acha que são zumbis :S

20 de dezembro de 2012 às 21:35
Dane disse...

Eu sempre achei isso bem claro em TM, talvez seja porque eu odeie modelos preestabelecidos.

20 de dezembro de 2012 às 21:48
cyberfabbi disse...

Muito bom! Em no máximo um mês quero estar com esse livro em mãos.

Obs: eu diria que REC é uma mistura das duas últimas categorias (infectados - vivos doentes/possuídos pelo coisa ruim, kkk).

Fabi Deschamps

20 de dezembro de 2012 às 23:14
Anônimo disse...

Eu acho que vc estar sendo muito estrela tiago ......vc n pode sair mudando coisas que durante anos conquistaram pessoas .......o negocio do zumbi ser rápido até tudo bem .,agora vc mudar o ponto fraco dos zumbis n fica legal,.....vc n queria que terra morta ficasse famosa? ??? Então ....talento vc tem até de mais, o seu livro é encantador então pra quer vc vai criar "uma nova era de zumbis "???????

21 de dezembro de 2012 às 15:07
Tiago Toy disse...

Anônimo (sempre esse bendito anônimo), texto atualizado só pra você. Dois trechos acima da lista de filmes, para ser mais exato. Obrigado pelo comentário. Se sua opinião continuar a mesma, sinto muito.

21 de dezembro de 2012 às 16:06
Anônimo disse...

Bem na verdade eu fasso meus comentarios em "anônimo" pois eu n sei como comentar de outro modo ;-) kk (eu seu... eu sou muito paia kk)

23 de dezembro de 2012 às 01:36
Resident disse...

minha opinião: Exterminio é um ruim e "madrugada dos mortos" é foda

tenho um blog de Resident Evil, visitem

http://re-evilbr.blogspot.com.br/

1 de janeiro de 2013 às 22:58
Anônimo disse...

Tudo bem os zumbis correrem igual a diabos, agora eles estarem vivos????

7 de janeiro de 2013 às 23:55
Taty disse...

Interessante a explicação, acho que zumbis são como todos os seres fantásticos cada um tem uma versão só não pode fugir muito e gostei da sua

bjos

9 de janeiro de 2013 às 19:24
Herick disse...

Cara, dizer que modificar os zombies ao seu livro não é boa estratégia pra fazer sucesso é o mesmo que dizer que Crepúsculo não vende nada. lol
Olha a merda que a mulher fez com os vampiros! E veja a quantidade de fans!
Eu não tomaria Crepúsculo como exemplo caso o efeito buscado fosse qualidade, mas como a crítica foi sobre sucesso, tive que dizer.
Mas não pense que julgarei seu livro por isso, Tiago. -qq Pelo contrário, estou bastante interessado em ler. Quando tiver oportunidade, comprarei.

Abraço e sucesso!

15 de janeiro de 2013 às 01:06
Anônimo disse...

Adiciona aí o estranho Pontypool, onde o "vírus" é transmitido pela línguagem http://www.youtube.com/watch?v=RsGPsbAd7Dc

e o bizarro Deadgirl
http://www.youtube.com/watch?v=5d2YoUIDha8

Eu entendo muito bem seu ponto de vista. Tenho meus próprios zumbis e faço com eles o que quero. Assim como vampiros. Acho graça quando atacam Crepúsculo pelos motivos errados, dizendo que vampiro não é daquele jeito. "Vampiros de verdade". Eu nunca vi um, então... Não estou defendendo a franquia. Acho lixo e fico imaginando se a ideia tivesse tido um tratamento diferente, sombrio, etc. Vampiros têm que morrer no sol, dizem... é? Dracula não morria e é tido como o "pai" deles. rs. Enfim... cada um é pai de sua criatura e dá a ela a educação que quiser.

Parabéns pelo livro.

16 de janeiro de 2013 às 04:17
George Goulart disse...

Em Resident Evil(Jogo) Eles estão infectados por vírus, e não mortos!

25 de janeiro de 2013 às 05:13
Anônimo disse...

Então no caso já que eles estão vivos e n mortos pode acontecer deles lembrar do própio passado né????

29 de janeiro de 2013 às 17:04
tesTset disse...

Tiago, gostei muito do seu livro e do estilo "realista". Concordo com seus pontos e minha teoria do "apocalipse zumbi" é bem parecida com a sua abordagem de "infectados".
Dois pontos que acredito merecerem uma melhor análise:

1. Uma vez que estamos falando de "infectados-vivos", ainda necessitam de agua para viver. Sem ela morreriam definitivamente em três dias. E estou considerando que uma eventual refeição humana regada a sangue, não é uma boa fonte de hidratação. :)

2. A infecção viral leva dias, e não poucos segundos. Por isso temos aquele processo de febre e delírio durante o processo.

A abordagem realista, apesar de palpável aos leitores mais céticos, dificilmente faria um holocausto zumbi vingar, pois são muitos os elementos que fariam nossos queridos infectados morrer... :(

Talves por isso que nos filmes mais clássicos eles só tenham o cérebro vivo, talvês infectados por um virus tão potente que haja a nível celular, respondendo à instruções de uma célula-virus que reside no cérebro, heheeh (viajei agora).

Grande abraço e sucesso!

31 de janeiro de 2013 às 11:53

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