[Terra Morta RPG] Capítulo 6 - Johan




Nada havia dado certo desde que se mudara para aquela cidade. O emprego planejado tinha ido por água abaixo e, para conseguir se manter, obrigou-se a trabalhar como zelador na única escola disposta a contratá-lo. E para variar, o suposto fim do mundo. É, nada havia dado certo.

            Não enxergava muito bem dentro daquela sala.
            A única iluminação provinha de uma pequena janela acima da porta, alta o suficiente para que sequer conseguisse espiar do lado de fora. Estava fraco e com fome, mas até então não arriscara sair dali, pois certamente seria ele a se tornar a merenda dos antigos estudantes daquele colégio.
            Algo os havia agitado aquela manhã, e podia ouvir seus gemidos abafados se sobressaindo à chuva que seguia incessante desde que amanhecera. Mas não pretendia permanecer ali por muito tempo. Não aguentava mais, e já havia planejado sua fuga na noite anterior, com ou sem a presença dos malditos mortos-vivos.
            Guardou o canivete no bolso, o qual carregava sempre consigo, e pegou uma das vassouras guardadas junto de alguns baldes no fundo da sala. Recostou-se na porta e tentou se focar no barulho do lado de fora, esperando o melhor momento para sair dali. Pareciam distantes, os filhos da mãe. Torcendo para que realmente estivessem, girou a maçaneta.

            O corredor estava horrendamente decorado com materiais escolares, cadeiras, e muito sangue. Johan seguiu em frente, ainda sem sinal de qualquer inimigo. As salas de aula estavam vazias, o que certamente indicava que eles estavam no pátio.
            – Curtindo o banho – ironizou, ouvindo a chuva se chocar contra as janelas pelas quais passava abaixado para que não corresse o risco de ser visto.
            Não viu problemas em ir adiante, e só quando prestes a chegar à secretaria é que encontrou o primeiro obstáculo: a porta dupla que dava acesso ao pátio encontrava-se escancarada, entregando qualquer um que tentasse passar despercebido.
            Arriscou uma espiada, e se arrepiou mediante a enorme quantidade deles reunida ali. Misturavam-se em uma multidão miserável que se perdia de vista, vagando a esmo e se esbarrando uns nos outros, desde o refeitório até as escadas que levavam às salas de aula no segundo andar da escola. Estudantes e antigos funcionários, todos famintos e terrivelmente perigosos.
            Johan manteve-se ali, parado, se martilizando quanto ao que faria. Se um único deles o visse, estaria condenado. Mas era isso ou continuar ali, o que cedo ou tarde o entregaria nas mãos do mesmo destino sangrento.
            Então respirou fundo e avançou tão rápido quanto conseguia, certo de que aquele seria seu ultimo ato em vida. Mal conseguiu evitar o sorriso quando se viu livre do campo de visão dos inimigos, aparentemente sem chamar atenção de nenhum deles.
            O corredor seguinte o levaria direto para a saída. Tão perto, mas ao mesmo tempo para tão longe. Torcia apenas para que...
            – Por favor, me ajuda! – ouviu o grito às suas costas.
            Johan se virou para encarar seja lá quem fosse que o chamava, e se viu frente a frente com uma das antigas alunas dali. Morena e de olhos claros, no auge de sua adolescência. As roupas sujas e a palidez, porém, mostravam que havia enfrentado as mesmas dificuldades que ele.
            – Quem é você? – foi só o que conseguiu dizer.
            – Por favor, você tem que me ajudar! – ela se aproximou, já sem conseguir segurar o choro. – Me tira daqui, por favor!
            Lembrou-se então dos mortos-vivos lá fora.
            – Cala a boca, eles podem te ouvir! – alertou, tarde demais. Ouviu o primeiro urro vindo do pátio, e depois o segundo, o terceiro... até que todos se misturassem em um coro macabro cada vez mais próximo. Então o primeiro deles atravessou a porta pela qual penara em passar discretamente.
            – Merda – praguejou. – Vem, corre! – Johan a puxou pelo braço e começou a correr.
            Não demorou para que chegassem à porta de saída, a qual estava aparentemente arrombada. Sentiu a chuva lhe chicotear o rosto no momento em que emendou a correr pela rua, seguido de perto pela garota que àquela altura não parava de chorar por um momento sequer.
            Não sabia para onde ir, mas tinha certeza de que se parasse para decidir seria mastigado vivo. Enntão continuou correndo para lugar nenhum, apenas esperando pela oportunidade ideal para despistar a legião em seu encalço.
            – Não consigo mais correr! – ouviu às suas costas.
            Ignorou a garota, sem diminuir o ritmo dos passos. Mas a verdade é que também já começava a sentir o corpo pedindo por clemência, o cansaço e a fraqueza se mostrando mais fortes do que imaginava. Não comia há dias e, só agora, no pior momento, sentia as consequências.
            Então ouviu algo se chocar contra o solo, e quando se virou suas suspeitas se confirmaram: estirada em uma entre as muitas poças d’água que se formavam ali, a menina encarava as próprias mãos esfoladas e sangrando.
            – Socorro – implorou. – Me ajuda!
            Johan a encarou por um breve momento, e logo em seguida a multidão que vinha logo atrás; não só os que o seguiam desde a escola, mas muitos outros haviam se juntado aos demais, perdendo-se de vista no decorrer da rua. E estavam cada vez mais perto.
            Sem dizer uma única palavra, voltou a correr.
            – SOCORRO! – ouviu, mas não pensou em voltar para ajuda-la. Não podia correr o risco, não àquela altura. Na melhor das hipóteses, a garota os atrasaria para que tivesse tempo de fugir.
            Não demorou para que os gritos por ajuda se transformassem em gritos de dor. Sabia o motivo, mas em momento algum voltou a olhar para trás. Tentou apenas se manter firme mediante a própria fraqueza, e continuou correndo.



O texto acima não tem qualquer vínculo com a história original de Terra Morta e nem foi escrito por Tiago Toy. É uma adaptação do RPG mestrado no Orkut por Luan Matheus, escrita pelo próprio.

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