[Terra Morta RPG] Capítulo 10 - Edmar



O som do veículo avançando pelas ruas destruídas atraia cada vez mais deles, motivo pelo qual não poderia parar até que estivesse em um local propício para uma fuga, ou no caso de conseguir despistá-los, o que era bastante improvável.
Podia vê-los se deslocando em grande numero para as ruas, atraídos pelo barulho das outras dezenas que o seguiam desde o hotel, mesmo que distantes. Seguia para a delegacia, e não estava assim tão longe.
Cortou caminho virando por uma esquina; a rua aparentemente vazia, livre de carros ou quaisquer outros obstáculos tão presentes por onde já havia passado. Dali, poderia seguir até a avenida principal, que levava diretamente ao seu destino.
Chegou a sorrir, mas então o automóvel foi, aos poucos, perdendo a velocidade.
O sorriso morreu em seus lábios. O combustível estava no fim.


Checou os bancos uma ultima vez antes de sair do carro.
Podia ouvir os inimigos se aproximando por onde havia vindo. Com a mochila nas costas e a barra de ferro em mãos, começou a correr no momento em que os primeiros deles dobraram a esquina, rosnando feito animais.
No inicio, apenas três. Uma rápida espiada por sobre os ombros lhe revelou o restante que vinha logo em seguida, pelo menos cinco vezes essa quantidade, talvez mais. Não conseguiria fugir por muito tempo. Sabia disso. Olhou ao redor, sem cessar a corrida, em busca de uma rota de fuga.
Avistou um armazém.
As dezenas de passos acelerados em seu encalço o impulsionaram a correr ainda mais depressa, motivado pela certeza de que nunca estivera assim tão perto da morte. Um misero descuido e se transformaria no desjejum de dezenas de canibais.
Nem ao menos se importou quando a barra de ferro escapou por entre seus dedos, rolando pelo asfalto enquanto emitia um estalido metálico que lhe doeu nos ouvidos para logo em seguida ser sobrepujado pelos gritos de seus perseguidores.
Olhou para trás no momento em que alcançou a entrada do armazém.
Sentiu os dedos frios do medo se enroscando em volta de seu pescoço, sufocantes. Nunca vira tantos deles num mesmo lugar, e estavam cada vez mais perto. Edmar rangeu os dentes, abatido, mas não demorou em se virar e adentrar o armazém. O fez através de uma porta metálica, arrombada, o que significava que não poderia voltar a trancá-la.
Viu-se em meio a um labirinto de corredores, percorrendo todas as direções em meio às centenas de grandes barris metálicos, armazenados em sequencia no decorrer de altas prateleiras de ferro.
Respirou por meio segundo, e então os ouviu atravessar a mesma porta pela qual havia entrado. Sem perder tempo, começou a correr em busca de um meio de sair dali. Viu-os preencher os corredores aos montes, e só então se deu conta do erro que havia cometido. Sentiu-se dominar pelo desespero no momento em que foi cercado, de ambos os lados do corredor no qual se encontrava. Não tinha para onde correr, mas então uma ultima ideia lhe acometeu de súbito.
– O teto! – sibilou, o olhar correndo pelas grandes vigas metálicas suspensas sobre as prateleiras.
Começou a escalar a alta prateleira no momento em que os inimigos o alcançaram. Uma mão se fechou ao redor de sua canela, forçando-o para baixo. Edmar prendeu a respiração, desesperado, e se desvencilhou do aperto mortal utilizando de toda a força que ainda dispunha, chutando.
Sem se atrever a olhar para baixo, continuou a subir.


O suor lhe escorria frio pelo rosto quando se equilibrou sobre os barris metálicos no topo da prateleira, tão grandes e pesados quanto ele mesmo. Suspirou aliviado por ter conseguido escapar, mas sabia que o verdadeiro desafio ainda estava por vir.
Esticou os braços e se agarrou às vigas de ferro acima de sua cabeça. Fechou os olhos e respirou fundo, para só então puxar o corpo para cima, pendurando-se com força. Então começou a se mover.


Cada segundo era uma eternidade, lá em cima.
Os cortes em seus braços e peito, apesar de superficiais, latejavam em resposta à força empregada em cada mísero movimento para que conseguisse seguir em frente. Sentiu o sangue voltar a fluir para fora dos machucados, manchando a camiseta.
Sua visão era limitada, mas supunha que ainda lhe faltavam cerca de três, talvez quatro metros até que alcançasse a janela do outro lado. Então foi pego desprevenido por uma fisgada absurdamente dolorosa na perna esquerda, que se soltou quase que institivamente em direção ao vazio. A outra perna a acompanhou, e um grito lhe escapou garganta afora no momento em que se viu pendurado apenas pelos braços.
Olhou para baixo.
Um mar inacabável de bocas e olhos famintos se estendia por todos os cantos do armazém, acompanhados de incontáveis mãos erguidas em sua direção, esperando que caísse para que pudessem saciar seu mais puro desejo assassino.
Edmar engoliu em seco, e voltou a olhar para frente. Estava mais perto da janela do que havia suposto. Não mais que dois metros o separavam de sua única de salvação.
Tentou puxar o corpo para cima, mas desistiu logo na primeira tentativa. A mochila concedia um peso extra bastante incômodo, e já podia sentir seus braços começarem a fraquejar, latejando em dor como que pedindo por misericórdia. Mas estava longe de ser misericordioso. Pelo menos ali, e iria abusar de suas forças o quanto fosse necessário para se salvar.
Então foi em frente, centímetro por centímetro, até que se visse frente a frente à grande janela de vidro que o levaria para fora dali. Soltou as mãos quando se viu acima da ultima prateleira, desabando contra o próprio corpo. Permaneceu ali, deitado, parado, sentindo cada musculo pulsando em uma dor incessante. Todo seu corpo pedia por descanso, e seus olhos pesavam, tentando lhe arrastar para o sono.
Quase cedeu. Quase.


Escondeu-se atrás de uma grande caçamba de lixo, no beco ao lado do armazém.
Ainda podia ouvi-los do lado de dentro, provavelmente frustrados por perder sua presa. Sabia o quão arriscado era permanecer ali, mas precisava recobrar as forças. Não sabia se aguentaria uma nova fuga tão em breve, não depois do que havia passado.
– Nos filmes faziam parecer tão mais fácil – murmurou para si mesmo, aborrecido, e abriu a mochila para apanhar a garrafa com a pouca água que ainda lhe restava. Tomou tudo num único gole.
Olhou ao redor enquanto mastigava metade do ultimo pão do qual ainda dispunha. Estava duro e difícil de engolir, mas não se importava. Aquilo não aplacaria sua fome, mas era melhor do que nada. Só quando terminou é que voltou a se levantar. Fechou o zíper da mochila e espiou por sobre a caçamba.
Não avisou nenhum deles, então seguiu em frente. Não estava muito longe da delegacia e, se tudo corresse bem, estaria lá em cerca de quarenta minutos, talvez menos.


As ruas estavam estranhamente vazias, tomadas por um silencio incômodo, sem qualquer sinal de nenhum daqueles monstros. Talvez todos tivessem sido atraídos para o armazém em meio a todo o alvoroço dos que o haviam perseguido. Torcia para que sim.
Não demorou a ingressar na avenida que o levaria direto à delegacia. A destruição, ali, era mais que evidente; inúmeros carros acidentados preenchiam toda a vista, ladeados por cadáveres e muito sangue no decorrer do asfalto. Aquilo o fez se lembrar de todo o caos que se seguiu nas primeiras horas de toda aquela desgraça.
Há quanto tempo havia sido? Cinco dias? Quinze? Um mês?
            Não fazia a ideia. Mas, de certa forma, preferia não saber.
Seguiu em frente utilizando de tudo que podia para se esconder, mesmo que, até agora, não tivesse visto nem sinal de inimigos. Os minutos se arrastaram longa e tortuosamente conforme avançava, adentrando ainda mais a destruição na qual o centro da cidade havia sucumbido.
Um bom tempo se passou até que avistasse, finalmente, a delegacia.
O prédio de dois andares mostrava visíveis sinais de incêndio em algumas janelas. Tentou a porta da frente, mas algo a bloqueava do lado de dentro. Bufou indignado, e tentou espiar o lado de dentro através de uma fresta em uma das janelas do térreo.
Não conseguia ouvir ou ver nada do lado de dentro.
Deu a volta na construção, em busca de um meio de entrar, e encontrou uma grande janela com os vidros quebrados. Viu-se no grande salão de entrada assim que pulou a janela. As paredes, negras de fuligem, deixavam pequenos vestígios da cor branca que ostentaram antigamente. A madeira do balcão se desfez em cinzas quando se debruçou em busca de algo que pudesse ser útil. Não encontrou nada.
Então ouviu algo.
Apurou os ouvidos e olhou para o andar de cima, mas não voltou a ouvir mais nada. Com cuidado, aproximou-se da escada e começou a subir, degrau por degrau, cuidadoso mediante o risco de a madeira ceder sob seus pés.
Seguiu pela primeira porta que encontrou no corredor seguinte. Com cuidado, girou a maçaneta e abriu uma fresta, espiando o lado de dentro sem que conseguisse enxergar nada suspeito. Abriu-a um pouco mais, e então entrou, cauteloso.
Parou num estalo ao ouvir a porta se fechar, mas antes que pudesse se virar sentiu o cano frio de uma espingarda junto à nuca.
– Paradinho aí – disse uma voz às suas costas –, ou estouro seus miolos!




O texto acima não tem qualquer vínculo com a história original de Terra Morta e nem foi escrito por Tiago Toy. É uma adaptação do RPG mestrado no Orkut por Luan Matheus, escrita pelo próprio.

2 mordidas:

Anônimo disse...

Amei o testo ;)

13 de dezembro de 2012 às 17:43
Anônimo disse...

Velho cader o proximo capítalo???? Isso é muito chato ter que ficar esperando ......

19 de dezembro de 2012 às 20:07

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