Relato de sobrevivência #01: A menina sem orelha
Agora
Encerrado dentro do blindado, ele tinha tempo para
pensar. Pensar, repensar...
Quando resolveu engajar no Exército, tinha de
confessar (nem que fosse só para si mesmo) que seu principal objetivo era uma
carreira estável e um salário um tanto maior do que as perspectivas que tinha
até então. Tinha, sim, um forte senso de dever e patriotismo, mas logicamente
que esperava nunca combater numa guerra – talvez nunca seguisse essa carreira
se houvesse grandes chances disso acontecer –, e mesmo quando houve
oportunidade de participar de missões de paz em terras estrangeiras, declinou,
preferindo ficar com a família.
Agora teria de combater, e combater algo que fazia a
guerra convencional, com e contra soldados como ele, parecer uma realidade um
tanto menos assustadora...
Antes
Tão logo as notícias vagas e bizarras do que estava
acontecendo no interior da Região Sudeste começaram, ele sabia que a convocação
era questão de tempo. Apresentou-se e por dois dias ficou aquartelado com
alguns colegas, para então serem chamados e receberem instrução.
Um helicóptero com dois tripulantes estava fazendo um
reconhecimento visual de uma cidade chamada Taiaçú, quando tiveram problemas e
acabaram pousando em uma estrada, perto de uma borracharia. Comunicaram a base,
estavam bem, e era necessário ir buscá-los. E foi aí que a parte estranha da
instrução começou.
Eles deveriam ir buscar os tripulantes. E só. O
helicóptero deveria ser coberto com uma rede de camuflagem e deixado lá até
segunda ordem. Nenhuma equipe de manutenção ou remoção seria enviada.
Deixariam uma aeronave cara para trás, nas
proximidades de uma área urbana, sem sequer alguém para guardá-la. Ficaria lá e
pronto. Sequer tirariam itens essenciais ao funcionamento.
Muito estranho, mas mais estranho que isso (e o que lhe
fez deduzir que a situação era realmente “quente”) foi o que o oficial lhes
comunicou, em seguida:
- ... Em função da crise na área, vocês podem esperar
alguma hostilidade local. Não deixem que qualquer pessoa se aproxime.
Indivíduos que ignorem a ordem de parar e, principalmente, não falem, devem ser
abatidos...
“Não falem”. Meu Deus do Céu!
- ... Repito: DEVEM ser abatidos. Não se arrisquem e
evitem contato físico há qualquer custo. Fiquem em áreas abertas, evitem
edificações, e combatam qualquer pessoa que tenha comportamento bestial e
raivoso...
“Bestial e raivoso”. A situação era muito pior do que
parecia na TV, e na TV a situação já parecia horrível.
O restante da instrução foi rápido. Poucos
suprimentos, poucos equipamentos, muita munição. A equipe de extração seria
formada de um oficial, três soldados (um rádio-operador) e um médico civil, de
uma empresa fornecedora de tecnologia para o Exército. Cada vez mais estranho.
E, se faltava algo para coroar a estranheza da
operação, isso se resolveu quando o enorme carro de combate sobre rodas,
imponente entre as viaturas leves no pátio, foi apresentado como o transporte
da operação.
CARRO DE COMBATE: TAMBÉM CHAMADO “TANQUE DE GUERRA” OU
“BLINDADO PESADO”, REFERE-SE A GRANDES VEÍCULOS MILITARES PESADOS E BLINDADOS.
Foram escoltados até uma barreira. De lá, o blindado
seguiu sozinho.
Agora
Pararam.
Os dois tripulantes do blindado sondaram a área, uma
estrada asfaltada deserta com a típica paisagem de campo, com poucas casas e
pontos de vegetação alta, de um lado, canaviais do outro.
Saíram do veículo pela porta traseira, junto com um
dos tripulantes. Ao invés do oficial, foi o médico civil que assumiu a
operação.
- Seguiremos a pé desse ponto. O transporte fica aqui
e, caso tenhamos dificuldades em voltar, solicitamos ajuda pelo rádio. Basta
seguir em frente pela estrada, OK?
Todos concordaram. Ele aproveitou para analisar o
homem. Roupa com camuflagem pixealizada em tons de cinza e preto, cujo
tecido parecia ser muito resistente, e coturnos que poderiam ser considerados
caros até para olhar; “melhor do que o nosso equipamento” pensou. Portava uma
submetralhadora de alta tecnologia, e salvo a arma e uma camelbag,
carregava tudo mais em bolsos.
CAMUFLAGEM PIXEALIZADA: SISTEMA MODERNO DE CAMUFLAGEM
MULTIPADRÃO, QUE UTILIZA PEQUENOS QUADRADOS (PIXELS), E É MUITO EFICIENTE EM FUNÇÃO DE CONFUNDIR
A DISTINÇÃO DE FORMA AO OLHO HUMANO.
CAMELBAG: RESERVATÓRIO DE ÁGUA (OU OUTROS LÍQUIDOS)
FLEXÍVEL, SEMELHANTE A UMA MOCHILA, EM GERAL COM DISPOSITVO
QUE PERMITA AO USUÁRIO BEBER SEM RETIRA-LÁ DAS COSTAS.
Foi apresentado há eles, ainda na base, como “Doutor”,
e só. Não havia identificações pessoais no seu traje, apenas as conhecidas
cruzes vermelhas sobre o escudo branco e um logotipo no lado esquerdo do peito:
LAQUARTZ.
- Durante esta missão, utilizaremos equipamento
discreto – falou o oficial, entregando supressores para os fuzis e
pistolas. O Doutor também acoplou um à sua metralhadora.
“SUPRESSOR: POPULARMENTE CHAMADO “SILENCIADOR” OU
ABAFADOR”, É UM PROLONGAMENTO QUE SE ACOPLA AO CANO DE UMA ARMA DE FOGO E QUE
TEM A PROPRIEDADE DE DIMINUIR CONSIDERAVELMENTE O RUÍDO DOS DISPAROS.
Atentos aos pontos de vegetação alta, às valas e às casas
próximas à estrada, partiram caminhando pelo asfalto. Os tripulantes se
trancaram no blindado, que ficou parado onde desembarcamos.
Andaram por meia hora pela estrada reta, em um dia de
sol forte, e não viram ninguém. Sem o pio de um único pássaro, o trinido de um
único inseto, o vento farfalhava as folhas num ruído alto e, para eles,
assustador.
Enfim chegaram ao local da extração. Há princípio, um
galpãozinho de compensados de madeira e telhas na beira da estrada, com a
palavra BORRACHARIA escrita na frente e nas laterais. A quantidade de pneus e
ferramentas espalhada ao redor mostrava que veículos maiores eram reparados
embaixo das árvores. Mais de perto, recuada, via-se uma casinha branca, pequena
e bonita, no meio de um pátio limpo e arborizado. Ao lado, num campinho de
futebol, estava o helicóptero, vazio, mas sem danos aparentes.
Ao lado do helicóptero, deitada, uma pessoa
praticamente sem rosto depois de levar vários tiros.
Armas erguidas. Silêncio.
Dois homens ficaram guardando a retaguarda e vigiando
o helicóptero à distância, próximos à borracharia vazia. Ele, o oficial e o
doutor foram até a casa.
Foram avançando, ele seguindo o Doutor e o oficial.
Havia uma porta aberta na varanda lateral da casa, provavelmente da cozinha.
Avançaram para ali, lentamente.
Subitamente, ouviram batidas. Não, passos. Passos que
pareciam vir de fora, mas...
Um vento repentino carregou uma sacola plástica pelo
pátio, quando então uma adolescente alta, de vestido florido curto, saiu de
trás da casa e correu atrás dela soltando uma espécie de rugido, e parou
estática quando pegou o saco branco. A visão era aterrorizante: faltava-lhe a
orelha esquerda, que fora removida (comida?) junto com uma tira de carne do
couro cabeludo e da nuca. Sangrava.
Ninguém parecia saber como agir, com exceção do
oficial, que deu um curto assobio. A jovem virou-se, e bastou vê-los para
adquirir uma expressão possessa e soltar um grito selvagem. Então, no meio de
espamos, o ombro dela pareceu sofrer uma série de explosões e o braço soltou-se
do corpo.
Demorou um pouco para entender que ela havia levado
uma rajada de tiros do oficial, uma vez que quase não se ouviam os disparos em
função do supressor. Cambaleando, a garota parecia não se importar ou sentir
dor por ter perdido o braço, e começou a avançar na direção do Doutor, que
parecia paralisado não de medo, mas uma espécie de admiração com aquela
criatura.
Ela, por sua vez, repentinamente acertou a postura e
começou a ensaiar uma corrida. O médico levou a mão à arma, mas o oficial foi
mais rápido e acertou um tiro certeiro na cabeça da atacante.
O Doutor, ainda se recuperando do susto e com a arma
empunhada, deu um sorriso:
- Obrigado, Tenente!
Um movimento de cabeça foi tudo que o oficial
respondeu, antes que um garotinho pulasse de cima da casa e o mordesse no
ombro, derrubando-o com o ataque. O garoto fazia ruídos e continuava atacando.
Virou-se para ele, então, e pode ver que havia quebrado dentes e deslocado a
mandíbula no processo. O médico metralhou o garoto baixinho atirando de cima
para baixo, evitando fogo cruzado.
O garoto estava em cima da casa. Daí o barulho de
passos.
Estavam verificando o telhado quando uma mulher saiu
correndo de dentro da casa pela porta aberta. Foi sua vez de disparar o FAL
bem no rosto dela, que caiu para trás na escadinha da varanda. Dentro da casa,
gritos. Mais deles.
FAL: FUZIL CALIBRE 7.62 DE ORIGEM BELGA FABRICADO NO
BRASIL PELA IMBEL, SOB LICENÇA. É A ARMA PADRÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO.
Dois rapazes saíram de dentro da casa. Família grande.
Ele abateu um. Era estranho mirar, observar o clarão, sentir o tranco, ver a
cápsula ser ejetada enquanto o alvo tombava. Nunca havia atirado em alguém
antes, e agora já derrubara dois.
O doutor metralhou as pernas do segundo rapaz, que
rapidamente passou há se arrastar na direção deles, de barriga para baixo. Um
tiro, e agora já eram três seus “alvos positivos”.
- O que você fez? – gritou o Doutor – Podíamos ter
capturado um deles vivo!
- Como é que é?
Um gemido do Tenente encerrou a discussão. Foi socorrê-lo,
mas o Doutor, um pouco mais calmo, foi enfático.
- Não.
- Não? Que merda é essa...
- Ele está infectado. – interrompeu – Vai ficar como
eles.
- Como assim?
- Assim como eu disse.
Algo no tom de voz daquele médico estranho não deixava
dúvida. Ele sabia o que estava acontecendo, e dizia a verdade. Pelo menos sobre
aquilo.
Aquelas pessoas... Foi isso que aconteceu com elas. O
pessoal do helicóptero. Tinham que achá-los, mas antes...
- Não podemos deixá-lo assim. – falou.
- E o que sugere? Carregá-lo até que se torne uma
ameaça? – devolveu o médico, em tom de desafio.
“Situação?”, gritou um dos soldados de perto da
borracharia.
- Mantenham a posição! – gritou de volta. Sem notar,
estava no comando.
O médico percebeu a situação, estreitou os olhos, mas
logo os cantos da sua boca se inclinaram num sorriso.
- Podemos tentar uma coisa. É arriscado, mas ele não
tem nada há perder. – respondeu, e então tirou uma caixa metálica de um dos
bolsos.
Seis pequenas seringas. Sedativo e anestésico. O Tenente
desmaiou com uma, mas ele injetou mais três.
- Temos que ter certeza que ele não vai acordar. –
explicou.
- Vou chamar o transporte.
- Não.
- E como vamos carregá-lo?
- Não vamos. Quer ficar preso num tanque com um deles?
Ele falou alto, para que os dois soldados distantes
também ouvissem. O pior de tudo é que ele tinha razão.
Ia fazer um curativo no braço do oficial quando,
rápido com um raio, outro dos “infectados” correu para fora da casa. Foram
abatidos pelos outros soldados a meia
distância entre a casa e eles. O traje não deixava dúvida: era o piloto do
helicóptero.
- Fique de guarda. – ordenou o médico, assumindo
novamente a operação.
Enquanto vigiava a casa e os arredores, um dos
soldados se aproximou.
- Vamos carregá-lo? – perguntou.
- Negativo. É muito perigoso.
- Ele vai virar um deles, não vai?
- Vai. – respondeu, lembrando da garota sem orelha,
provavelmente atacada pelos pais e irmãos. O namorado também, talvez.
E o garotinho que atacou o oficial? Talvez tenha sido
infectado e, antes de se transformar (“transformar”, que horror!) tenha fugido
dos outros escalando uma árvore e pulando no telhado.
Eram pessoas normais, levando uma vida monótona na
beira de uma estrada, tocando um negócio tranqüilo... Agora, eram monstros.
Monstros mortos.
Será que todos?
- Vamos continuar procurando o outro? – perguntou o
soldado.
Havia se esquecido do outro tripulante do helicóptero,
por um momento.
- Não sei...
- Temos que procurar. Se estiver bem, somos a única
chance dele.
O soldado tinha razão. Iriam procurá-lo. Concordou.
- E o Tenente?
- Não sei.
- Podíamos colocá-lo na casa, trancado em um dos
quartos.
- Eu não vou entrar. – observou o Doutor, após ter
feito os curativos – Mas não vou impedir vocês.
Três soldados armados. É... Ele não ia impedir, mesmo.
Fizeram sinal para que o soldado de guarda perto do
galpão ficasse atento e, armas em riste, entraram na casa. A porta realmente
dava na cozinha, e de lá seguia para um pequeno corredor, quartos de ambos os
lados.
O outro soldado foi na frente, ele logo atrás. E então
o seu colega fez algo que contrariava todo o bom senso: olhou para trás sobre o
ombro, para falar com ele. Mas não falou.
Uma das portas abriu com violência para dentro do
quarto, e quando posicionaram as armas para frente uma garotinha ainda menor do
que o garoto no telhado mordeu seu colega na coxa, logo acima do joelho,
tirando sangue apesar do tecido grosso.
Antes que pudesse atirar nela, um homem alto, gordo e
barbudo (o pai?) agarrou seu fuzil pelo cano e, com força absurda, puxou,
arrancando-o de suas mãos. Correu de costas de volta para cozinha e sacou a
pistola, efetuando dois disparos, um no ombro (sem efeito) e um na testa.
O seu colega havia caído, e a garotinha lhe mordeu o
pescoço, matando-o. Com o eco dos tiros na cozinha, já que ainda não acoplara o
supressor da pistola recém tirada do coldre, ergueu os olhos da presa e
voltou-os para ele. Dentes arreganhados.
Fez mira, mas não pode atirar. Mal ouviu os ruídos na
rua, um homem de terno e gravata entrou pela porta pronto para atacá-lo, e foi
abatido. Irrompeu correndo pelo corredor pisando nas costas da garotinha
abaixada, quase sendo agarrado por um segundo atacante, uma mulher, que entrava
pelo mesmo lugar que o anterior.
Chegou à sala da frente da casa, virou-se e atirou,
matando a mulher (que tropeçara nos outros corpos) e a garotinha. Por uma
fresta na cortina, olhou para fora e viu o Inferno.
Pelo menos uns trinta deles caminhavam rapidamente
pelo terreno, em direção a casa, sendo que cinco ou seis já se amontoavam sobre
o soldado que ficou na rua. Mais chegavam pela estrada, vindos de Taiaçú,
provavelmente.
Tinha de agir. Colocou um carregador completo na
pistola e montou o supressor, sempre atento ao corredor. Mais um entrou –
surpresa: era o Tenente – e foi abatido com um tiro só.
Não podia ficar ali. Era questão de tempo até o
pegarem.
Olhou pela cortina, abriu a porta da frente (Graças a
Deus, destrancada) e correu no momento em que vários tomaram a casa pelo mesmo
lugar que ele havia entrado.
Atirou nos dois mais próximos, correu na direção do
helicóptero e, de lá, para o matagal além, com uma multidão atrás. A falta de
coordenação deles atrasou-os um pouco no mato fechado, mas era questão de tempo
até aquela gritaria atrair outros e ele ser cercado.
Do mato conseguiu atingir a estrada com certa vantagem
e, de arma na mão, correu. Surpreso, viu alguém correndo não contra ele, mas na
mesma direção.
O médico da Laquartz se salvara, então.
Correu, correu, mas sua vantagem parecia ir diminuindo:
eles não se cansavam, não diminuíam o ritmo. Eram obstinados, ao passo que suas
pernas e pulmões pareciam estar em fogo da carreira que se impunha para fugir
deles.
Correu, correu, e via o Doutor cada vez mais próximo,
também. E então avistou o blindado que se aproximava de ré, em baixa
velocidade.
Ganhou novo fôlego com a “reta de chegada” próxima. Ainda
abateu um que o estava alcançando. Mas então o veículo parou para o médico
entrar, e a porta se fechou.
- Doutor! DOUTOR!
Tinha certeza que o médico lhe vira, olhara
diretamente para ele.
Engrenando uma marcha para frente, o tanque partiu em
velocidade considerável, o motor diesel roncando alto.
- DOUTOR!
Havia sido deixado para trás. “Morrer é questão de
tempo”, chegou há pensar.
Mas não parou de correr. Não aceitava morrer daquele
jeito, depois de tudo que passou, de ter perdido tantos colegas e,
principalmente, de ter sido traído daquele jeito.
Os pensamentos ainda estavam na sua cabeça quando,
virou e abateu mais dois que estavam em vias de lhe alcançar. Três ainda
estavam perigosamente próximos – quantas balas ainda teria? Recarregar agora
era impossível.
“O pior é que ainda vão dizer que morri como os
outros, e vão se passar por heróis!” pensou, e a raiva lhe deu um pouco mais de
fôlego.
Sua cabeça pulsava, o ar fazia um ruído alto ao passar
pela garganta seca, e acima de tudo havia a gritaria infernal nas suas costas.
Mas ainda assim ouviu um barulho que sempre considerara inconfundível...
De uma estradinha de terra, uma entradinha arborizada
de algum sítio, um Fusquinha branco saiu e avançou sobre ele, desviando no
último minuto para atingir os três perseguidores mais próximos.
- SOBE! – gritou o motorista, mas antes de obedecer
atirou no primeiro que levantou e num dos que corriam na estrada. Tinha mais
uns tiros, afinal.
Abriu a porta e sentou no banco, quando o carro
arrancou antes que colocasse as pernas totalmente para dentro. Deu uma boa
olhada no motorista e teve, talvez, a maior surpresa do dia: a roupa não
deixava dúvida, era o outro tripulante do helicóptero.
- Sou seu resgate. – falou, alto o suficiente para se
fazer ouvir acima do ruído do motor em alta velocidade.
O outro caiu na risada e ele, principalmente em função
do nervosismo, riu também, mas logo abaixou a cabeça e respirou fundo, contendo
uma vontade imensa de chorar.
Quando teve certeza que ia se conter, viu que a
expressão do outro estava séria, um tanto raivosa. O que ele sabia?
- Não podemos voltar para base, agora. – disse o
“resgatado”, saindo da estrada e, ao passar por um pontilhão sobre uma vala,
pegando uma estradinha de terra – Não vão nos deixar passar na barreira. Depois
eu explico.
Ele concordou. Não podiam voltar, agora. Agora, não...
Mas ele ia voltar. Ah, ia...
Tinha uma conta para acertar. Com os tripulantes do
blindado, mas, principalmente, com o médico sem nome, que certamente achava que
ele estava morto.
- Mas às vezes os mortos voltam, Doutor. Agora a gente
sabe disso...
SOBRE O AUTOR: CARLOS UBIRATAN
“DENTE” ROESCH PETRY É TÉCNICO EM MECÂNICA. NASCIDO EM
VIAMÃO, RIO GRANDE DO SUL, EM 1982, HOJE MORA NA BELA CIDADE DE CANELA, ONDE –
ENTRE OUTRAS COISAS – ESCREVE CONTOS, MANTÉM DÚZIAS DE COLEÇÕES E SE PREPARA
PARA O FIM DO MUNDO. E LÊ
TERRA MORTA.
3 mordidas:
Maneirasso!!!!!!!
29 de julho de 2013 às 04:32Muito bacana. Deixou o gosto de "quero mais". 🤘
21 de abril de 2023 às 12:08Non sabilha q vc escrevilha.
22 de abril de 2023 às 00:03Postar um comentário