[Terra Morta RPG] Capítulo 8 - Willer




Sempre fora um irmão protetor. Mas agora, após toda essa desgraça, onde estaria sua irmã caçula? No intuito de sobreviver, manteve-se confinado em casa durante todos aqueles dias. Mas estava na hora de sair. E não faria aquilo somente por si mesmo.

            Abriu o portão com cuidado, o olhar correndo pela rua em busca de qualquer sinal de perigo. Não o encontrando, saiu. Seguiu a passos largos até a casa de seus vizinhos, do outro lado da rua. Se apossaria do carro dos mesmos e, então, iria em busca de sua irmã.
            A garota estava na casa de uma das tias, do outro lado da cidade, quando tudo aquilo começou a acontecer. Sabia o quão perigoso seria o percurso até lá, mas era um risco o qual estava disposto a correr. Precisava saber se estava tudo bem. Se ela estava bem.
           
            A garagem estava trancada, mas encontrou a porta da frente escancarada e decorada em vermelho. Sangue. Havia muito sangue ali, no piso e nas paredes do lado de dentro. Seguiu pelo corredor, os ouvidos apurados para qualquer barulho suspeito.
            Se bem se lembrava guardavam, na cozinha, as chaves do carro e garagem. Então foi a diante, passo ante passo, cauteloso quanto a algumas das portas, no corredor, que levavam aos outros cômodos.
            Não viu problema em chegar à cozinha e, como que sorte, encontrou o molho de chaves preso a um suspensório em um dos armários. Antes de sair, vasculhou as gavetas em busca de qualquer coisa que pudesse ser útil, não encontrando nada além de uma grande faca, a qual adotou como arma.
            Ao se virar, parou de chofre. Estava sendo observado.
            Parada junto à porta, Carla o encarava. Nunca fora muito apegado à vizinha, mas teve pena ao ver no que se transformara. As bochechas já não existiam, deixando exposta a arcada dentária coberta de sangue que lhe concedia uma aparência extremamente perturbadora.
            Vasculhou o cômodo com os olhos em busca de uma maneira de escapar, mas não havia saída senão por onde entrara. Como que prevendo suas ações, a moça investiu com um rosnado bestial, os braços esticados em sua direção no intuito de agarra-lo assim que tivesse a primeira oportunidade.
            Will, entretanto, foi mais rápido e contornou a mesa antes que a inimiga o alcançasse, derrubando uma das cadeiras na vã tentativa de detê-la por alguns breves segundos. Podia ouvi-la em seu encalço enquanto corria pelo corredor, o que o estimulou a aumentar ainda mais a velocidade de seus passos para longe dali.
            Viu-se novamente na rua e, sem perder tempo, fechou o portão que levava ao jardim da residência para que tivesse alguma vantagem. Desesperado, correu até a garagem e tentou a sorte, arriscando a primeira das chaves. Errada.
            Ouviu Carla gritar junto ao portão, furiosa pela barreira que a separava de sua vitima. Se não fosse rápido, logo mais deles seriam atraídos pelo som e, então, estaria perdido. Tentou a quarta, a quinta chave, mas nenhuma delas abria a maldita garagem. A sétima e ultima chave, entretanto, mostrou-se a correta e, com um pouco de esforço, ergueu o portão e entrou sem pensar duas vezes.
            Então sentiu seu corpo se chocar contra o capô do carro, e ouviu um urro bem próximo de seus ouvidos. Jogou o corpo para trás e se virou no momento em que a inimiga se afastou, pronto para se defender. Carla havia escapado e ele, no intuito de entrar na garagem o quanto antes, nem ao menos havia notado.
            Procurou por sua faca que, com o ataque, havia se soltado de sua mão. A encontrou há alguns metros de onde estava, no chão. Se jogou na direção do objeto no momento em que Carla arriscou a segunda investida, mas a mesma se mostrou mais rápida e o prensou contra o piso.
            Com um dos braços, Will a forçou para longe através do pescoço, tentando impedir que suas mandíbulas mortíferas o alcançassem, e com o outro tentou alcançar a faca. Seus esforços, porém, mostravam-se em vão, e cada segundo que se passava parecia interminável.
            Sentia o hálito de podridão contra seu rosto cada vez que a bocarra se escancarava para abocanhar o ar, há míseros centímetros de si. Então sentiu seus dedos se fecharem ao redor do cabo da faca e desferiu o primeiro golpe na inimiga, lhe perfurando as costelas sem que, para sua total frustração, surtisse efeito algum.
            Aproveitando de toda a força da qual ainda dispunha, empurrou Carla para trás e a derrubou para o lado, para logo em seguida arriscar a segunda apunhada, dessa vez no pescoço. Um jorro de sangue negro esguichou no momento em que a lâmina perfurou as artérias, em direção ao crânio, manchando suas roupas e braço.
            Vitorioso, o rapaz se levantou, a faca ainda entalhada na adversária vencida. Entretanto, estranhou a repentina dor no braço que usara para mantê-la afastada quando engajados no chão. Sentiu um aperto no estômago no momento em que encarou o sangue que lhe escorria até as mãos. Seu sangue.
            Havia sido mordido.



O texto acima não tem qualquer vínculo com a história original de Terra Morta e nem foi escrito por Tiago Toy. É uma adaptação do RPG mestrado no Orkut por Luan Matheus, escrita pelo próprio.

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